sexta-feira, 18 de julho de 2014

O virar de uma página

A vida é feita de mudanças e de vez em quando, quando menos esperamos levamos um imenso balde de água fria por cima da cabeça. Foi assim esta semana. Costuma-se dizer que há males que vêm por bem e eu quero acreditar que sim. Se calhar estava mesmo na altura de encerrar este capitulo... pois... se calhar.

Passo a explicar. Quando os meus filhos nasceram, fiquei tão entusiasmada com o facto de vir a ser mãe de gémeos que me meti em tudo e mais alguma coisa que dissesse respeito a gémeos. Escrevi o livro (a melhor coisa que tirei desta trapalhada toda). Criei um site, na altura com o objectivo de divulgar o meu livro mas que, depressa percebi que não serviria apenas para a sua divulgação. Era também um espaço em que tentava dar algumas indicações às novas famílias de gémeos, algo que eu senti imensa falta quando descobri que ia ser mãe de dois ao mesmo tempo. Mas, na verdade o meu tempo disponivel era pouco para gerir o site da maneira como eu gostava e associei-me a outra mãe de gémeos com a qual parecia ter criado algumas afinidades. Refizemos o site e cheias de expectativas ela chegou mesmo a registar uma marca. Gémeos e Mais. O site passou a portal e passou a ser uma referencia no nosso país como o unico Portal em português que falava exclusivamente de gémeos. Eu tratava da parte dos conteudos, já que adoro escrever e ela com o imenso jeito que tinha para o design, tratava da estrutura. E a coisa estava a correr bem até. Tão bem que não contentes com o portal, resolvemos criar uma associação, a Associação Gémeos e Mais. Estávamos entusiasmadissimas com isso pois a verdade é que sentíamos mesmo a falta de uma associação do género. Mas as coisas nem sempre correm como queremos e para as coisas correrem bem é necessário estarmos rodeadas das pessoas certas que partilhem o mesmo entusiasmo que nós, coisa que não aconteceu. Todas nós tinhamos / temos os nossos trabalhos que não queriamos descurar e o facto foi que, era preciso mais do que aquilo que podiamos dar. E as coisas foram-se deteriorando... começou o jogo do empurra, começou a desilusão, até que a Associação teve os dias contados e foi o primeiro projecto a dar para o torto. Fica o portal pensei eu... Afinal, toda a nossa historia começou por aqui. E seria assim, até que... mais uma vez a desilusão bateu-me à porta. E eu vi-me encostada entre a espada e a parede. Se por um lado, considerava o portal como meu pois o primeiro portal era meu, por outro a marca registada não era minha e cada vez me identificava menos com o rumo que o portal estava a tomar. Não vou explicar aqui o que aconteceu pois é do foro privado mas vou dizer que me afectou diretamente, de tal forma que não conseguia viver em consciência se não largasse a administração do portal gémeos e mais e tudo o que ele envolvia. 

Foi uma enorme tristeza para mim ter de abandonar este projeto que tanto trabalho e tanto entusiasmo me deu. Continuo a achar que o portal foi uma das melhores ideias que tive pois faz imensa falta. Não faço ideia qual vai ser o futuro dele. Apensas sei que não estou incluída nesse futuro. E assim encerrei uma grande pagina na minha vida que foi o projeto Gémeos. Fiz o melhor que sabia e podia. Consegui no meio da caminhada, ajudar muitas mães e tenho a certeza que o livro ainda vai ajudar muitas mais. Não considero que tenha sido um falhanço da minha parte. Acho que, como muitas coisas na nossa vida, existe um principio, um meio e um fim. E da minha parte, tenho consciência tranquila e sinto que cumpri o meu dever. Resta-me desejar boa sorte a quem ficar com o Portal. Quem sabe o futuro me leva novamente de volta a esse caminho.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A minha maquilhagem... a minha pele

Um dia, no ginásio que costumava frequentar, uma amiga com a qual eu costumava beber café antes da aula reparou que eu tinha vitiligo. Muito simpaticamente perguntou-me se aquilo que eu tinha era mesmo vitiligo. Disse-lhe que sim. Perguntou-me se já tinha feito tratamentos para o vitiligo. Disse-lhe que não. Que não havia. Que os unicos tratamentos que havia para o vitiligo eram feitos em Cuba, com placenta humana, os unicos tratamentos que davam resultados reais. Ela diz-me que não. Que em Portugal ela tinha conhecimento de uma clinica que fazia tratamentos ao Vitiligo. Por sinal a mesma clinica de dermatologia que lhe estava a tratar de um problema de acne. Estranhei... mas ela deu-me o contacto para eu ligar para a clinica e experimentar. Nunca tinha ouvido falar de tratamentos. Verdade seja dita que nunca mais sequer tinha pensado no assunto. Além de me ter falado na clinica, trouxe-me umas amostras de uma maquilhagem que ela usava na zona do peito para disfarçar o acne. Era uma maquilhagem da dermablend que estava a ser lançada naquele ano. Uma super maquilhagem especialmente concebida para disfarçar problemas de pele como Vitiligo, rosácea, queimaduras, etc. Havia vários tons e ela andava com varias amostras. Deu-me uma palete inteira para eu experimentar em mim. Meu Deus... que diferença! Eu, que andava com maquilhagens carissimas e que para fazerem o efeito pretendido me davam uma trabalheira imensa, fiquei completamente rendida à Dermablend da Vichy.

Esta era a antiga. A MINHA BASE!


Era uma maquilhagem compacta, que se aplicava com uma pequena espátula primeiro na mão e que depois com o dedo, espalhavamos pela cara. Rematávamos com um pó fixador de maquilhagem e pincel. A maquilhagem tinha SPF20 e era à prova de água. Numa palavra. FANTASTICA. Eu diria que esta maquilhagem era a descoberta da pólvora para as pessoas com Vitiligo e apetecia-me gritar aos 4 ventos que ela existia. Nunca me vou esquecer desta amiga, apesar de há muitos anos não a ver.

Depois de conhecer a Dermablend abriu-se um novo mundo para mim. Um mundo em que me dava realmente prazer em me maquilhar. E isso, para quem se maquilhava por obrigação era inexplicável.

Infelizmente, a Vichy deve ter achado que o mercado não era tão grande assim que lhe permitisse manter a maquilhagem compacta e um dia, alguns anos depois do lançamento, descontinuou a linha. Voltou com uma base fluida, também bastante boa mas quem conheceu a compacta percebe que não tem nada a ver. Com esta maquilhagem, a dermablend conseguiu talvez abranger um maior numero de clientes, pois como é mais fluida, adapta-se melhor a todo o tipo de pele e para todo o tipo de maquilhagem. Para pessoas como eu, com Vitiligo... não havia melhor que a outra. Continuo a ser fã da Dermablend, pela facilidade de cobrir as manchas e pela cor mas se de repente, resolvessem relançar a base compacta, eu era das primeiras da fila.

Esta é a actual. Cor - 35 SAND

Que tal a Vichy retomar as bases compactas da Dermablend? Tenho a certeza que ia fazer felizes muitas pessoas. A mim ia fazer de certeza!

E agora em pesquisas descobri que as minhas preces ao longo destes anos sem a minha dermablend compacta foram ouvidas... e parece... parece... que ELA VAI VOLTAR!!!

Eu já tinha visto este video mas pensei que era antigo. Afinal não... é mesmo recente! VIVA!!! Esperar para ver e continuar a rezar. :)

Vejam aqui!  https://www.youtube.com/user/DermablendPro/CamoConfessions


Vitiligo???

Um dia, tinha eu 18 aninhos, acabada de sair da praia, entro no carro, quando o meu namorado de então olha para mim com ar de espanto e diz-me... RITA, tens a cara toda manchada! Virei o espelho do carro para mim e vejo então uma enorme mancha branca e redonda no queixo. Não fazia ideia o que podia ser nem me lembro o que pensei na altura. Acho que esperei que passasse e que fosse apenas uma reação do sol. O dia passou, tomei banho, coloquei os cremes e a mancha continuava grande e assanhada no meu queixo. A minha mãe assustou-se. Naquela altura, disse-me ela depois, achava que eu podia ter uma doença tipo lupus. Olhava para as minhas faces pois do que ela tinha lido, o lupus dava também uma rosetas tipo borboletas na cara. Mas não. Não devia ser lupus. Que raio era aquela enorme mancha então? Era Verão, pleno Agosto e foi uma dificuldade para arranjar um dermatologista que desse consultas de urgência. Com bastante dificuldade, arranjámos um. Eu ia descontraida pois achava que aquilo não devia passar de um virus qualquer da praia, pois naquela altura até havia muita gente com uma coisa parecida com aquela que costumava afectar as costas. 

Foi com uma enorme surpresa, que o dermatologista logo que me observou, me dá o diagnóstico. VITILIGO. O que é isso? Perguntei eu. O Vitiligo é uma doença de despigmentação da pele. E eu: Mas vai ficar assim para sempre? E ele: "Isso se não aumentar. A tendência é para a despigmentação ir alastrando pelo corpo todo. Há pessoas que têm mais de metade do corpo despigmentado. E não há cura!" Naquela altura caiu-me tudo ao chão. Lembrei-me de imediato de uma miuda girissima que tinha sido colega de escola da preparatória mas de outra turma e que tinha precisamente mais de metade do corpo despigmentado, e que por isso era alvo de alguma chacota por parte de colegas desagradáveis. E a miúda que era gira, gira... Eu não era assim tão gira. Toda manchada... como é que ia ser? O que é que ia ser de mim? O meu namorado ia deixar de gostar de mim e todos na universidade iam gozar comigo. De repente, passou-me pela cabeça ser a mulher mais infeliz do mundo.. infeliz e FEIA!

O que os 18 anos fazem à cabeça de uma pessoa!

O médico dermatologista não foi nada meigo. Pintou mesmo o pior cenário possivel. Proibiu-me de apanhar sol. Sol só com protector de ecran total dizia ele. E nesse dia, acabou o Verão para mim. Pelo menos naquele ano. Foi dos Verões mais infelizes que eu já tive. HORRIVEL.

O tempo passou e como no inverno a mancha branca passava meio despercebida esqueci o problema. Ou melhor, não esqueci mas... adormeci o problema. No ano seguinte, consultei outro dermatologista. Esse dermatologista não pintou o cenário tão negro como o primeiro. Referiu que sim, tinha de ter cuidado, sim tinha mesmo vitiligo, sim o vitiligo podia alastrar... MAS... também podia não avançar mais. Tudo dependia da minha forma de estar e do stress envolvente da minha vida. Segundo esta dermatologista, o vitiligo era uma doença inimiga do stresse, ou seja... um episódio mais stressante ou traumatizante, podia fazer avançar a doença. Sol? Claro que sim. Continue a apanhar sol mas com as devidas precauções pois a pele como está branca tem tendência a queimar com mais facilidade e pode apanhar escaldões naquela parte da pele mais facilmente. - Dizia ela.

Ufa. Menos mal, pensei eu. Vamos lá então habituar-me à ideia de andar malhadinha. De vez em quando notava que me iam aparecendo mais manchinhas, nomeadamente nas virilhas, nas axilas, no peito e nos dedos das mãos... umas mais pequeninas... outras maiorzinhas. Tentei não ligar ao assunto e continuei a fazer a minha vida.

Quando acabei a faculdade, 4 anos depois de me terem aparecido as primeiras manchas, a evolução do vitiligo estabilizou, mas... começaram os problemas. Na faculdade nunca me tinham olhado de maneira diferente, nunca me gozaram e sempre me trataram como se nem vissem o Vitiligo. E nunca, mas nunca usava maquilhagem. 

Ao começar a trabalhar, comecei a sentir que as pessoas mais velhas olhavam para mim com ar de coitadinha, e não raras vezes me vinham perguntar o que eu tinha. Se tinha apanhado algum escaldão. Havia pessoas que sem nunca ter reparado que eu tinha manchinhas, de repente, olhavam para mim como se eu tivesse uma doença contagiosa e perguntavam que raio tinha na cara. Outras, querendo ser muito amigas (mentira) mostravam-se muito preocupadas, dizendo que eu tinha era de ir ao médico ver isso... por mais que lhes explicasse que ao médico já eu tinha ido, não valia a pena. Para estas pessoas eu devia ter qualquer coisa grave e era melhor ir ao médico imediatamente. Enfim... Foi de tal maneira chato que resolvi começar a maquilhar-me. Um dia, farta dos olhares descriminadores, entrei numa loja de maquilhagens e pedi ajuda para me disfarçarem o vitiligo. As bases e cremes eram carissimos e o meu jeito para maquilhagem nulo. Ainda assim, levei os produtos na esperança de conseguir embonecar-me como na loja de maquilhagem. E foi um sucesso. Deixou de haver descriminação e passei a ser uma miuda completamente normal... já o era, mas as pessoas achavam que não. A partir daí, a maquilhagem faz parte de mim. Não consigo estar sem estar maquilhada. Apesar de nunca me ter preocupado muito com o aspecto ( a não ser naquele ano fatidico do choque ), não há duvida que me sinto muito melhor comigo mesma se me maquilhar. Porque se não gostarmos de nós, quem gostará? 

O Vitiligo nunca me impediu de fazer nada, nem de ter namorado, nem de casar, nem de ter filhos, nem de trabalhar! O vitiligo não nos impede de sermos felizes. O vitiligo é apenas e só um tipo de pele diferente. Há os negros, há os brancos, há os morenos e há... os malhadinhos... uns mais que outros. A descriminação está no olhar dos ignorantes. Se as pessoas olham para mim e para as minhas manchas? Sim. Ás vezes noto que sim... outras se calhar também mas eu nem noto. Eu também olho para outras pessoas que, como eu são malhadinhas... sem qualquer olhar discriminativo. Por curiosidade? E por outra razão que vos vou falar mais tarde mas deixo já uma dica. Cura? Não, não há... Mas há, felizmente tratamentos que melhoram substancialmente o vitiligo. Falo deles mais tarde.