quarta-feira, 16 de março de 2016

Gritar, gritar, desesperar

Em todo o lado se vêm textos com verdades absolutas e incontornáveis sobre aquele tema tão sensível para nós mães que é gritar ou não gritar com os nossos filhos. Textos que lemos e relemos, concordamos, partilhamos com outras mães e pais e tentamos lembrar-nos dos mesmos de cada vez que o(s) nosso(s) filhos resolvem chagar-nos a cabeça. A culpa é nossa e não deles. Nós é que somos os culpados e não eles. Nós é que temos de nos controlar e não eles. Há milhares de outras formas de os chamar a atenção sem ser a gritar e a bater. E o sentimento de culpa que fica depois de nos termos passado da marmita? Tudo porque lemos e relemos aqueles textos de como não devemos nem podemos gritar e porque concordamos com eles e porque na verdade nós não queremos ter de gritar!

Eu não gosto de gritar, aliás eu detesto gritar. Mas grito, ou melhor BERRO, BEM ALTO.... Começo devagarinho calmamente. Ninguém me pode acusar de começar imediatamente aos gritos. Começo sempre calmamente a avisar que estão a passar da linha. Não ouvem. Melhor (ou pior), ignoram e continuam a fazer o disparate como se eu nem existisse. Aviso uma vez, duas vezes, três vezes. Á medida que vou avisando o meu tom de voz começa a subir, o coração a acelerar. Eu não quero gritar mas o coração está a rebentar e as veias começam a dilatar. Sei que não vou aguentar e à décima vez GRITO! Não resulta. A festa continua... para eles tudo é uma festa. Sou eu que estou errada? Não deviam rir-se até lhes doer a barriga mesmo estando eles cheios de comida na boca? Se calhar estou errada. Devia deixar... viro costas... engasgam-se, cospem... Não aguento. BERRO!!! Nervosa, agarro nele(s) e a minha vontade é pregar-lhes um valente estalo. Mas não faço isso. Eu não sou dessas mães. Sou uma mãe que ladra mas não morde, grita mas não bate... respiro fundo e o desafio continua. Não aguento e contra tudo o que penso, desejo e sou, dou um puxão de orelhas a ele(s). Dói-me mais a mim do que a eles. O meu coração aperta-se de dor. Mas eles param. E o silêncio ouve-se finalmente. Não sem antes terem passado da gargalhada ao choro. E o meu coração de mãe chora com eles e pergunta porquê? Será que sou eu que descarrego mesmo as frustrações do dia, da vida, na felicidade deles? Mas eles iam vomitar penso eu para mim, como se a justificar o meu deplorável ato. Sinto-me uma louca. Ajo que nem uma louca. Não devia ser preciso. O meu coração acalma e volta ao ritmo normal. Aprecio o silêncio embora haja uma nuvem negra no ar. Eles sabem que são as pessoas mais importantes para mim. Sabem que os adoro mais que tudo na vida. Mas até eles devem achar-me uma louca. Tenho uma ou duas horas até ao próximo desafio. A hora de dormir. Tudo para eles é uma brincadeira. Tudo para mim é um desafio. Sou só eu que acho mal jogarem à bola antes de irem dormir? Ou darem pulos na cama? Ou fazerem lutas de wrestling? E o palavreado? Devo fechar os ouvidos ao ouvir a palavra pila 10 vezes em 2 frases? E volto a respirar fundo e a pedir devagarinho para se acalmarem pois é hora de dormir. Não ouvem. E eu levanto a voz um bocadinho, e mais um bocadinho pois continuam sem ouvir. E viro costas e vou-me embora numa tentativa que eles percebam que está na hora. Mas se não volto, as lutas de wrestling continuam. Afinal dormir é uma seca e quanto mais tarde melhor. Depois de mais uns berros (com sorte desta vez fico-me "só" pelos berros), finalmente estão deitados. Respiro fundo e olho para eles. São tão inocentes. Lindos. Felizes. E eu desmancho-me toda. Abraço-os e beijo-os com toda a minha alma. É a minha alma a pedir desculpa por ser louca. Mas não consigo ser de outra forma. O problema não é deles, é meu. Foi o que li num desses últimos textos que circulam na net. Se calhar é. Ou talvez não. Se calhar eles também podiam ajudar um bocadinho e perceber que há limites e horas para tudo não? A vida não é sempre um carrossel. A vida tem momentos de brincadeira e momentos mais sérios. Eles já não são bebés. São os meus bebés, mas com 8 anos, a caminho de 9 já não são bebés. Há o certo e o errado. Há a brincadeira e o exagero. E eles sabem que para brincar estou sempre pronta. Rio das piadas parvas deles, danço e pulo e faço caretas com eles. Até jogo à bola com eles quando menos esperam fazendo as delicias deles. Há horas para tudo. Não! Desculpem mas a culpa não é só minha! Os meus berros são a minha tentativa desesperada de lhes educar. Não devia berrar? Então devo fazer o quê quando a conversa não resolve e quando me ignoram? Deixá-los está fora de questão. Isso também não é educar. Castigar? Sim... até quando? E pior... quando estou sozinha neste desafio. Porque com o pai a vida também é uma brincadeira (quase sempre).