quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Adeus avô... descansa em paz

O meu avô era um homem de ar austero e por vezes de dificil trato mas apesar de tudo era acarinhado por toda a parca familia e por grande parte da população moitense, gratos pelos serviços prestados na vila como Bombeiro Voluntário da Moita. Tinha 91 anos, já a caminho dos 92 quando resolveu partir. Foi no domingo de manhã que recebemos a triste noticia. O meu avô, agora de pele enrugada, olhos encovados e tristes e corpo fraco foi vitima há cerca de 1 mês de uma queda, que o fez estar a noite toda sozinho estendido no chão de sua casa até ser encontrado pelas senhoras da segurança social, que faziam a sua ronda habitual matinal, a pedido da familia. Nunca mais foi o mesmo desde então. Começou por dificuldades em vestir-se, ir à casa de banho, comer. Actividades tão básicas para ele, eram de uma dificuldade extrema. Para a minha mãe, ela propria com as suas dificuldades motoras devido à queda que deu, não restava outra hipotese se não encontrar um lar para ele onde fosse bem cuidado até à sua recuperação ou... partida. O meu avô nunca gostou de lares mas tendo consciencia da sua incapacidade aceitou de bom grado a ideia inicialmente. Apesar de bem tratado no lar em questão, acabaram de ter de mudar o meu avô de lar pois queria à viva força passar os seus dias num lar na Moita. A contragosto, a familia lá aceitou mudá-lo para outro lar. Mas, nem uma semana aguentou. Vitima de uma infecção respiratória que o sufocava a cada dia que passava, acabou por partir na pior altura possivel. Com a minha mãe internada sem poder participar e acompanhá-lo no seu funeral.

O meu avô quis ser enterrado com a farda de bombeiro. Os bombeiros voluntários da Moita, quando souberam do seu falecimento imploraram para que fosse cumprida a sua ultima vontade. Ser enterrado na talha dos Bombeiros Voluntários da Moita que tem um Mausoléu para a eternidade. Foi feita a sua vontade. O meu irmão recolheu as medalhas de mérito do meu avô e colocaram-nas numa almofada vermelha na sala do velório. No dia do funeral, os bombeiros fizeram uma homenagem lindissima a ele e foi feito o cortejo funebre a pé, da capela até ao cemitério com um dos bombeiros a segurar a almofada das medalhas atrás do carro funerário. Foi muito comovente. Sei e tenho a certeza que o meu avô estava feliz.

Já a minha mãe, não podia conceber a ideia de não estar presente nesta altura tão importante e não escondia a tristeza. Quando soube da homenagem dos Bombeiros Voluntários desfez-se em lágrimas sentidas, de tristeza por não poder participar e de alegria por saber que o meu avô era tão amado por aquela comunidade.

Nós estivemos presentes claro. A nossa pouca familia. Representámos devidamente a minha mãe. Tenho a certeza que o meu avô sabe o quanto a minha mãe queria ter estado presente.

Adeus avô... onde quer que estejas, olha por nós... Vou ter saudades dos tempos da bisca dos 3, das canções revolucionárias do 25 de Abril e da tua famosa frase:

"Eu sou bombeiro, bombeiro afamado, quando chego ao fogo já o fogo está apagado!"

2 comentários:

Maria disse...

Sinto muito, muito, minha querida!
Um abraço muito sentido para ti e para toda a tua família!

JP disse...

A morte nada é.
Eu estou apenas noutro lado,
Eu sou eu, tu és tu.
Aquilo que eramos um para o outro
continuamos a ser.
Chamem-me como sempre me chamaram.
Falem-me como sempre me falaram.
Não mudem o tom da Vossa voz,
nem façam um ar solene ou triste.
Continuem a rir daquilo que juntos nos fazia rir.
Brinquem, sorriam, pensem em mim,
Rezem por mim.
Que o meu nome seja pronunciado em casa como sempre foi;
Sem qualquer ênfase, sem qualquer sombra.
A vida significa o que sempre significou.
Ela é aquilo que sempre foi.
O "Fio" não foi cortado.
Porque é que eu, estando longe do vosso olhar, estaria longe do vosso pensamento?
Espero-vos, não estou muito longe,
somente do outro lado do caminho.
Como vêm, tudo está bem .