quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Saber ouvir é um dom?

As vezes acho que devia ter ido para psicologia, jornalismo, qualquer outra coisa que não tivesse a ver com numeros e que me permitisse o contacto directo com outras pessoas, outras realidades, outras histórias que não a minha. E se calhar principalmente em que não estivesse enfiada dentro de 4 paredes a olhar para o computador sem trocar palavra com o colega do lado. Se há alturas em que sinto profundamente isso, hoje estou numa dessas alturas. E nem me posso queixar muito pois dentro da crise que existe, dou-me por feliz de ter um emprego, onde posso não fazer o que gosto mas faço aquilo para o qual estudei, não ganho mal, nem tenho maus horarios. Mas nós somos de facto, pessoas dificeis de contentar e raramente damos valor ao que temos. Eu não sou excepção. Há uma parte de mim que não se conforma com esta maneira de estar. Quando amigos e amigas minhas me ligam a contar os seus problemas e os problemas dos outros, me pedem opiniões sobre o que fazer, como agir, desabafam, choram e riem comigo, percebo que o que faço com eles tem tudo a ver comigo, porque o que faço com eles, vem de dentro do meu coração. Sou sincera, honesta, directa, sou boa ouvinte e digamos que a teoria eu tenho-a toda. Digo imensas vezes, minha amiga faz o que eu te digo, não faças o que eu faço pois eu não sou nada boa a aplicar a teoria à pratica. Mas o que é certo é que essas amigas e amigos acabam por aplicar aquilo que eu em teoria lhes disse e dá resultado. De alguma maneira eu consegui apazigoar os bichinhos maus que se instalaram na cabeça destas pessoas e vivem agora com muito mais tranquilidade. E eu continuo aqui, sempre para o que precisarem. Há uns tempos eu dizia para o JP que era uma chatice eu não ter nenhum dom. Mas... será que aquilo que eu faço com os meus amigos não é um dom? Haverá muita gente com este dom? É dificil arranjarmos uma pessoa que confiemos o suficiente para pormos nas suas mãos os nossos pecados, os nossos medos, as nossas preocupações... mais dificil ainda é conseguirmos ter dessa pessoa uma opinião segura, independente, critica mas cautelosa e sem preconceitos. Isto é um dom. Talvez o unico que eu tenha e não me admira que os meus amigos e simples conhecidos já tivessem reparado nisso e é por isso que me ligam não só para perguntar coisas tão simples como que tipo de pediatra devo escolher para o meu filho ou qual o restaurante que devo levar o meu sobrinho de 17 anos, como para chorar porque o namorado foi um filho da mãe ou pior porque a amiga perdeu um bebé a 2 semanas de o ter nos braços. E eu aqui faço o papel de mim própria com a sabedoria da experiencia e das inumeras leituras que faço sobre os mais variados assuntos, dou aquela palavra amiga, faço aquela critica dura que faz chorar mas que sabem que é verdade ou muitas vezes limito-me a ouvir em silencio porque as vezes a unica coisa que as pessoas precisam é de alguem que as oiça. E eu fico feliz por poder ajudar. Enche-me o coração saber que consigo ajudar. Este é o meu verdadeiro eu. E aquilo que eu devia fazer numa base diária em vez de estar enfiada dentro de 4 paredes a olhar para numeros.

Sem comentários: