terça-feira, 6 de novembro de 2012

Era uma vez o Wolfgang

Hoje, ao passear-me pela blogosfera, deparei-me com este post. Foi a primeira vez que conheci (se é que se pode dizer que se conhece alguém só através de blog) uma pessoa que tem exactamente o mesmo problema cardiaco que eu tenho. Wolfgang Parkinson White. O nome é jeitoso sem duvida, uma mistura de lobisomem com a doença de Parkinson. Nada a ver. Tenho este belo sindrome há uns 20 anos. Tudo começou quando nas festas da Moita, ao passar a Nossa Senhora da Boa Viagem, debaixo de um sol escaldante, me dá um fanico. Começo a sentir palpitações, suores frios e cabum, caio redonda no chão. Os meus pais dizem que talvez tivesse sido do calor, o meu primo goza comigo a dizer que eu devo ter qualquer coisa de santa e por isso é que caí à passagem da Nossa Senhora. O que é certo é não liguei grande coisa, até....me ter dado o fanico à espera do comboio, e no ano seguinte, novamente a ver a Nossa Senhora da Boa Viagem. :))) Pois é, mas eu não acredito em santidades e santa é definitivamente coisa que eu não sou, e como de vez em quando sentia aquelas palpitações embora nem com todas caisse redonda no chão, os meus pais resolveram levar-me ao cardiologista. Exames para aqui e para acolá e sem qualquer sombra de duvida estava feito o diagnóstico. A menina tem o sindrome de Wolfgang Parkinson White. O doutor até me faz um bonequinho todo jeitoso para que eu percebesse que raio de coisa era aquela. Qualquer coisa como uma das valvulas abre demasiado e deixa passar mais sangue que o habitual, sinceramente já não me recordo bem da explicação, mas em jeito de conclusão era. Não se preocupe pois não vai morrer por causa disto e não é impeditivo de nada pois até o Carlos Lopes (o maratonista) tem a doença e não foi por isso que deixou de ser medalha de ouro. Ora bem, tenho um coração com Wolfgang mas que não deixa de ser um coração de atleta. Está bem. Para que não me desse um fanico, deu-me uns comprimidos para andar na carteira e sempre que sentisse as palpitações, comprimido no bucho. Confesso que acho que só no 1º ano é que andei com os ditos comprimidos. Detesto tomar drogas e já tomo bastantes. Depois, foi aprender a viver com o sindrome. Giro, giro é quando fazemos exames e quem nos faz o exame não percebe um boi do que está a fazer e nos manda imediatamente para o hospital com o diagnostico de um ataque cardiaco iminente. Já me aconteceu na medicina do trabalho. Soltei uma gargalhada brutal e depois perguntei se o ataque cardiaco não seria simplesmente o Wolfgang... Ahh sim, mas você tem isso? (esse bicho raro que eu não faço ideia o que é) O melhor é ir na mesma ao médico... OK OK... já percebi que não percebe um boi disto. Tudo bem eu vou. O melhor é dizer sempre que sim... :)



E pronto, passados 20 anos do diagnóstico ainda estou viva. E convivo com o sindrome. Já me aconteceram cenas caricatas como sentar-me no chão da fnac no meio de uma multidão porque estava prestes a cair redonda no chão, com as pessoas a olharem para mim como se fosse um bicho esquisito em vez de ajudarem, ou sentar-me no chão do supermercado à espera que me passe a macacoa. E excusado será dizer que nunca mais assisti a procissão da Nossa Senhora da Boa Viagem... Não é por nada, mas o meu primo diz que eu sou Santa... E para mim os santos estão lá no céu.

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